JOSÉ, TEREZA, ZÉLIA... E SUA COMUNIDADE
UM TERRITÓRIO CIGANO
RESUMO:
O problema que sempre existiu ao estudar os ciganos foi o risco do exotismo e da
comparação depreciativa. Se, por um lado, as pessoas se encantam e surpreendem-se com o
"estranho" modo de vida dos ciganos, por outro, não relutam em considerá-los inferiores,
atrasados. Dessa forma, costuma-se definir os ciganos como sendo o povo que não tem
residência fixa, que não tem uma pátria, que não tem emprego...
Contudo, não se pode explicar os ciganos pelo que lhes falta, tendo como ponto de
referência a nossa sociedade, pois assim, deixa-se de ter uma melhor compreensão da sua
realidade. Pensando na essência da realidade cigana, este artigo traz inicialmente uma breve
caracterização histórica dos ciganos, apresentando a trajetória de poucos direitos e na seqüência
apresenta as relações sociais entre ciganos e não-ciganos na cidade de Ipameri, sudeste de Goiás.
O amor à liberdade, à natureza, e a sabedoria de viver representada por um conjunto de
tradições e crenças, fazem parte de uma cultura fascinante e polêmica de um povo amante da
música, das cores alegres e da dança.
Tais características são inerentes à cultura cigana. Para esse povo o importante é o
momento presente. O passado é experiência e lembranças, e o futuro uma expectativa aventureira
de conseguir sobreviver à margem de uma sociedade, que por muito tempo não conhecia a
origem desse povo. São traços predominantes de uma doutrina hedonista, que considera o prazer
como fim último e universal da conduta humana.
Foi difícil distinguir entre a lenda e a história com respeito à origem dos ciganos. Para
Peter Godwin (2001) somente no século XIX, através de pesquisas lingüísticas e antropológicas,
graças a indícios nos vários dialetos de seu idioma - o romani - chega-se a conclusão de que os
ciganos, provêm da região de Gurajati, norte da Índia e que foram para o Oriente Médio há cerca
de mil anos.
As informações mostram que, os ciganos migraram da península indiana para Europa há
quase mil anos. Espalharam-se pelo continente europeu deixando de ser um povo homogêneo.
Nos séculos XVI e XVII foram expulsos de vários países e passaram a ser associados aos
criminosos, aos propagadores de epidemias e aos ladrões. Esta racionalização negativa era aceita
pela maioria, para justificar as medidas de expulsão ou de distanciamento.
A história dos ciganos foi marcada também por perseguições e preconceitos durante a sua
dispersão pelo mundo a partir do século XI. Segundo Martinez (1989), na Moldávia e na
Valáquia, atualmente Romênia, os ciganos foram escravizados durante 300 anos; na Albânia e na
Grécia pagavam impostos mais altos. Também na Hungria conheceram a escravatura. E os
ingleses expulsavam, sob pena de morte, aqueles que se recusavam a fixar residência, ou seja, os
ciganos. Na Alemanha, crianças ciganas eram tiradas dos pais com a desculpa de que "iriam
estudar", enquanto a Polônia, a Dinamarca e a Áustria puniam com severidade quem os
acolhesse. Pior ainda acontecia nos países Baixos, onde inúmeros ciganos foram condenados à
forca e seus filhos obrigados a assistir à execução para aprender a "lição de moral".
Schepis (1997) reforça os exemplos de perseguições, preconceitos e discriminações
sofridas pelos ciganos. Para ela, na Sérvia e na Romênia eles foram mantidos em estado de
escravidão por um certo tempo e a caça ao cigano aconteceu com muita crueldade e com
bárbaros tratamentos.
A hostilidade ao cigano vem devido aos seus hábitos de vida muito diferentes daqueles
que tinham as populações sedentárias. Eles eram, também, considerados inimigos da Igreja, a
qual condenava as práticas ligadas ao sobrenatural, como a cartomancia e a leitura das mãos que
os ciganos costumavam exercer.
A falta de uma ligação histórica precisa a uma pátria definida ou a uma origem segura não
permitia o reconhecimento como grupo étnico bem individualizado. A oposição aos ciganos se
delineou também nas corporações, que tendiam a excluir os concorrentes no artesanato,
sobretudo no âmbito do trabalho com metais. O clima de suspeitas e preconceitos é mais uma
vez percebido por Martinez (1989) na criação de lenda e provérbios tendendo a pôr os ciganos
sob mau conceito, a ponto de recorrer-se à Bíblia para considerá-los descendentes de Cã, e ,
portanto, malditos (Gênesis, 9:25). Difundiu-se também a lenda de que eles teriam fabricado os
pregos que serviram para crucificar Cristo (ou, segundo outra versão, que eles teriam roubado o
quarto prego, tornando assim mais dolorosa a crucificação do Senhor).
Comerciantes natos, artesãos de cobre, metais e ourives, artistas, músicos e as mulheres
leitoras da sorte, nunca passaram despercebidas na história da humanidade. Sob o nazismo, os
ciganos tiveram um tratamento similar ao dos judeus: muitos deles foram enviados aos campos
de concentração, onde foram submetidos à experiências de esterilização, usados como cobaias
humanas. Calcula-se que meio milhão de ciganos tenham sido eliminados durante o regime
nazista.
Para continuação deste artigo visite a página infra :
https://observatoriogeogoias.iesa.ufg.br/up/215/o/Vaz_ademir_divino_territorio_cigano.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário