quinta-feira, 17 de abril de 2014

SPANISH GYPSIES ...

A coexistência entre ciganos e payos (os brancos) é boa e possível, como acontece na Andaluzia, no Sul de Espanha. O número de ciganos em Espanha, ou gitanos, como se chamam a si próprios, é estimado entre 500 mil e 800 mil. A maior parte deles vive na Andaluzia. O país tem, ainda, imigrantes ciganos vindos da Europa central, como também acontece em França. São cerca de 40 mil pessoas e vivem, principalmente, nos arredores de Madrid. Há centenas de anos que os ciganos vivem em Espanha, com altos e baixos, e sempre com os mesmos problemas: perseguição, pobreza, sedentarização forçada. Mas hoje, a Andaluzia pode servir de exemplo. Por várias razões. O Prof. Gunther Dietz, autor do relatório “O Estado e os Ciganos em Espanha”, argumenta que os valores tradicionais dos ciganos, como a família e o clã, a noção de honra ou, ainda, a autoridade concedida pelas famílias aos “anciãos”, são conformes aos conceitos da cultura tradicional, rural, espanhola. A integração dos ciganos nas aldeias andaluzas é, por isso, muito mais fácil do que nas grandes cidades do Norte. “Por exemplo, nas províncias de Granada e Sevilha, as duas mais importantes regiões de concentração de gitanos em Espanha e na Europa ocidental, as aldeias dividem-se informalmente em lado cigano (gitano) e não-cigano (payo), mas as trocas interétnicas, a reciprocidade e os casamentos mistos são aí muito mais frequentes do que nos ‘pseudo-guetos’ dos centros industriais”, afirma o Prof. Dietz. E há ainda um detalhe, mas de peso: o Flamenco, um dos símbolos espanhóis, nascido na Andaluzia entre os ciganos. Demonstra bem até que ponto a cultura cigana pode ser absorvida, explorada pela cultura dominante, tornando-se parte integrante dela. O sentimento de isolamento, tão devastador para as minorias, não tem sido pequeno. Juan de Dios Ramirez, presidente da Associação de Ciganos em Espanha e o primeiro deputado cigano no Parlamento Europeu (nascido, justamente, na Andaluzia), declarou ao diário El País que “o modelo é a Andaluzia. De um ponto de vista cultural, não de justiça social. A Andaluzia pode ser um modelo de coexistência social para os ciganos do mundo inteiro. Esta comunidade, onde é difícil dizer se são os andaluzes que se gitanizaram com os ciganos, ou se foram os ciganos que se andaluzaram”. Mas a Espanha tem muitas mais ideias para dar. Numa área tão importante como a educação, por exemplo, desde os anos 1980 que foram postas de lado as escolas especiais (ou “complementares”, como lhes chamavam). Desde então, todas as crianças ciganas vão à escola com os seus colegas payo. Pode lamentar-se a taxa de absentismo, que atinge os 30% de pequenos gitanos, mas o que conta é que 94% deles termina com sucesso a escolaridade. Cada um tem a sua sorte e, na República Checa, por exemplo, as crianças ciganas, até há bem pouco tempo, estudavam quase sempre em escolas especiais e muito poucas tinham a oportunidade de completar a escolaridade. É verdade que a Espanha não é, exatamente, um paraíso para os ciganos: nem todos os hábitos dos gitanos encontram aprovação, e há casos de intolerância. Mas, no entanto, são visíveis os frutos do trabalho iniciado logo no período de transição que se seguiu à morte de Franco. Considera-se que o momento crucial e o avanço simbólico para a questão dos ciganos tiveram lugar com o discurso de Juan de Dios Ramirez perante o Parlamento Europeu, onde foi o primeiro cigano a ter um lugar, entre 1977 e 1986. Em 1985, após o seu inflamado discurso sobre os direitos dos ciganos, foi aprovado o primeiro plano nacional de igualdade de oportunidades a favor dos ciganos. Desde 1989 que o Orçamento de Estado lhe destina uma dotação específica. Agora, Ramirez tem um novo projeto: quer sentar o presidente Sarkozy no banco dos réus do Tribunal Europeu de Justiça, no Luxemburgo. Na sua declaração, Ramirez afirmou que Sarkozy “ao fechar os acampamentos ciganos violou o direito francês, o direito europeu e a ligação tradicional da França aos Direitos do Homem”. Quer apresentar a queixa no início de setembro. É advogado, tem experiência das complexidades do sistema europeu e parece saber o que está a fazer.

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